De acordo com um estudo realizado pelo Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa (SEEG), do Observatório do Clima, e que contemplou cinco setores da economia que respondem pelas emissões no Brasil, o País registrou uma redução de 4,5% nas emissões de gases de efeito estufa no setor de energia.
Na contramão da média global de emissões, que registrou queda de 7% em razão da pandemia de Covid-19, o Brasil aumentou a emissão de gases poluentes em 9,5% em 2020. O SEEG analisou os dados de setores como agropecuária, processos industriais e uso de produtos e mudanças de uso da terra e florestas. Foram calculadas pelo SEEG 2,16 bilhões de toneladas de gás carbônico. Para comparação, as emissões brutas realizadas pelo Brasil em 2019 foram de 1,97 bilhão.
No setor de energia, o estudo considera a queima de combustíveis em atividades como transportes, indústria e geração de eletricidade. O segmento, que correspondeu a 20% das emissões do País, teve queda de 4,5%, causada principalmente pela redução de mobilidade durante o período mais acentuado da quarentena. Com a diminuição do fluxo de passageiros no transporte coletivo e queda da produção industrial, o setor elétrico emitiu por volta de 394 milhões de toneladas de CO2, retrocedendo a patamares de emissão de 2011.
Para o pesquisador Felipe Barcellos, do Instituto de Energia e Meio Ambiente (Iema), “o setor de energia foi aquele que apresentou a maior queda percentual de emissões em 2020. Esse resultado é um claro reflexo da diminuição de atividades emissoras devido à pandemia de Covid-19, quando foi necessário que as pessoas evitassem se deslocar. Destaca-se a diminuição de emissões nos transportes de passageiros. O consumo de combustível na aviação caiu pela metade. A demanda por gasolina e etanol também diminuiu de maneira relevante”.
A maior queda absoluta de emissões ficou por conta do setor de transportes. Contudo, a maior queda percentual foi registrada no subsetor de geração de eletricidade. São consideradas as emissões resultantes da queima de combustíveis fósseis em usinas termelétricas. A soma das emissões do setor caiu 11% de 2019 para 2020.
Crescimento nas fontes renováveis
Não houve significativa variação na demanda por eletricidade no Brasil em 2020, sendo observada apelas uma variação de -0,8% em relação a 2019. A energia gerada pelas hidrelétricas se manteve estável, com -0,4%. Já as fontes renováveis registraram aumento médio de 7,6% em sua geração, o que proporcionou uma redução na geração através de termelétricas, o que levou a uma queda de 51,8 milhões de toneladas de gases de efeito estufa em 2019 para 46,2% no ano seguinte.
A crise hídrica, no entanto, faz com que pesquisadores fiquem temorosos de uma brusca elevação nas emissões do setor, já que, com esse cenário, o acionamento de térmicas emissoras se torna imperativo para evitar apagões.
O coordenador do SEEG e do MapBiomas, Tasso Azevedo, lembra que o setor foi responsável pela acentuação da curva que colocou o Brasil como possivelmente o único país poluidor a aumentar emissões em um ano de atividades reduzidas e até suspensas por causa da pandemia. As queimadas e desmatamento explicam o resultado, já que na Amazônia e no Cerrado (que, somados, perfazem quase 90% das emissões do setor) as mudanças de uso da terra emitiram 998 milhões de toneladas de CO2 e, em 2020, um aumento de 24% em relação a 2019 (807 milhões).
Sobre o tema, o pesquisador declara: “Com o desmatamento da Amazônia e do Cerrado que nós tivemos ano passado, nem a redução que houve no setor de energia foi capaz de reduzir as emissões no Brasil”.