Fim do La Ninã é confirmado e gera expectativa no cenário global

O fenômeno climático conhecido como La Niña, que começou em setembro de 2020, período considerado atípico pelos especialistas, foi declarado como encerrado no início de março. Seus efeitos ao redor do globo provocaram fortes chuvas em diversas regiões, mas contribuíram também para uma queda na temperatura dos oceanos.

Confirmado pela Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos Estados Unidos (NOAA), o fim do fenômeno dever ser seguido de um período de neutralidade na temperatura dos oceanos pelo menos até julho, quando há maior probabilidade de se iniciarem os efeitos gerados pelo El Ninõ.

Embora tenha provocado um pequeno resfriamento nos oceanos, o La Ninã não foi suficiente para conter a elevação das temperaturas, isso porque, de acordo com a OMM (Organização Meteorológica Mundial), os anos de 2021 e 2022 foram os mais quentes registrados desde 2015.

A atenção de organizações e especialistas ligados ao clima está voltada aos impactos do El Niño nas temperaturas globais, uma vez que o fenômeno é caracterizado pelo aumento na temperatura no oceano pacífico.

Fenômeno ENSO

El Niño e La Niña são as fases quentes e frias de um padrão climático recorrente no oceano pacífico em razão da movimentação do ar nas regiões de baixa latitude. A sigla ENSO significa El Niño-Southern Oscillation.

Este padrão climático ocorre de maneira irregular, podendo ter períodos de dois a sete anos de duração. Seus efeitos, no entanto, são regulares e produzem alterações nos padrões de vento, chuva e na temperatura da superfície do planeta.

Enquanto o El Ninõ caracteriza-se pela elevação da temperatura do oceano, a La Niña o resfria com massas de ar frio. Em ambos os casos, as regiões tropicais são afetadas por eventos climáticos cada vez mais extremos e que impactam um enorme grupo de pessoas.

Chuvas intensas

O País testemunhou os efeitos do fim do La Ninã por meio das fortes chuvas que atingiram as regiões Sudeste, Norte e Nordeste nos meses de fevereiro e março.

Estima-se que, no litoral norte de São Paulo, as chuvas de fevereiro tenham deixado cerca de 500 pessoas desabrigadas. O número de mortos chegou a 36. O estado decretou estado de calamidade pública nas cidades de Ubatuba, São Sebastião, Ilhabela, Caraguatatuba, Bertioga e Guarujá, as mais atingidas pelos temporais.

Nas regiões norte e nordeste, a população também foi duramente impactada pelas chuvas acima do normal para o mês de março.  Em Rio Branco, no Acre, o volume esperado era de 270,1 milímetros, mas o acumulado para o período chegou a 585 milímetros. Ao todo, foram pelo menos 56 mil pessoas impactadas pelo fenômeno climático, e o local declarou estado de emergência.

A elevação do nível dos rios ultrapassou o limite de transbordo em alguns municípios. Em cidades como Belém (PA) e São Luiz (MA), o efeito das marés também contribuiu para as enchentes.

Efeitos no setor energético

Na prática, as chuvas dos últimos meses trouxeram alívio ao setor energético. O Brasil viveu em 2021 uma de suas piores crises hídricas dos últimos 91 anos, com reservatórios chegando a níveis alarmantes e a necessidade de acionamento de usinas termelétricas para atender à demanda energética nacional.

Para os consumidores, também foi um período difícil, com elevação acentuada nas tarifas de energia e a necessidades de mudanças nos hábitos e rotinas.

A crise foi superada com a elevação dos níveis hídricos em 2022, e os patamares de 2023 são mais favoráveis. De acordo com dados do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), divulgados no início de março, a região Sudeste/Centro-Oeste atingiu 79,1% da capacidade de armazenamento; no sul, 85,4%; e as regiões Norte com 98,5% e Nordeste com 86,8%.

Planejamento efetivo

É consenso entre especialistas da área meteorológica que previsões de longo prazo relacionadas ao clima estão sujeitas a uma maior taxa de erro. Contudo, observar tendências pode ser a chave para uma gestão mais eficiente não apenas da matriz elétrica nacional, como também nas operações de empresas, indústrias e comércio.

A estratégia provou-se imperativa para contenção de gastos com tarifas de energia durante a crise hídrica de 2021, quando houve risco real à capacidade do sistema nacional de suprir o consumo interno.

A diversificação de investimentos em fontes renováveis, como a eólica e solar, também amplia possibilidades e garante uma maior estabilidade e previsibilidade de custos e recursos.

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