Pressionados pelos custos de energia, empresas, grandes consumidores e até municípios estão em busca de sistemas mais eficientes, modernização de equipamentos e revisando processos produtivos para manter a competitividade.
Com investimentos na casa dos R$ 89 milhões, a Enel Brasil alterou diversos projetos que integram seu programa de eficiência energética com resultados concretos. A Ligas Industriais de Alumínio S.A. (Liasa), indústria intensiva que produz silício metálico, tem um plano de modernização dos fornos e prevê aumento de eficiência que pode chegar a 10%.
Por sua vez, as fabricantes WEG e Onpower estão sendo procuradas por aqueles que buscam equipamentos mais eficientes. Segundo dados do Plano Decenal de Expansão de Energia 2030, da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), os ganhos de eficiência energética reduzirão aproximadamente 6% da eletricidade da indústria em 2030.
A agenda de investimentos em eficiência energética foi impulsionada principalmente pela crise hídrica, os encargos tributários e subsídios. Só em 2021, a Enel no Brasil, por meio de suas quatro distribuidoras, investiu R$ 88,8 milhões em projetos que integram seu programa de eficiência energética, obtendo como principal resultado o atendimento de aproximadamente 331 mil beneficiados, economizando 62.257,81MWh ao longo do ano e reduzindo a demanda na ponta em 6.629,33 kW.
A diretora de Sustentabilidade da Enel Brasil, Marcia Massotti, afirmou: “Em 2021, investimos mais de R$ 88,8 milhões em projetos apoiados pelo programa, com iniciativas que aliam benefícios econômicos e reflexos positivos para a sociedade e o meio ambiente. Um dos destaques vai para a Chamada Pública de Projetos, realizada todos os anos e que visa beneficiar a sociedade como um todo. Os projetos de Chamada Pública alcançam essa visão de levar ganhos energéticos e tornar mais eficientes os serviços já oferecidos pelas instituições beneficiadas, sejam elas públicas, privadas ou filantrópicas”.
Se antes a disponibilidade e o preço da energia eram atrativos para que indústrias se instalassem no Brasil, hoje essas vantagens foram diluídas. A Liasa produz silício metálico e, na busca por competitividade, prevê um ganho de produção com a repotenciação dos fornos.
“No momento, a gente consome 100 megawatts médios (MW-med). A ideia é aumentar a produção reduzindo a quantidade de energia por tonelada de silício metálico. A repotenciação dos fornos deve trazer um aumento de eficiência entre 5% e 10%”, afirma o diretor de Energia da empresa, Ary Pinto Ribeiro Filho.
É nessa conjuntura que o gerente de Preço e Estudos de Mercado da Thymos, Gustavo Carvalho, conta que há um movimento de mudança na operação dos parques industriais, com a revisão dos processos produtivos. “Grandes indústrias têm feito isso, porém os pequenos ainda enfrentam dificuldades.”
Na avaliação do presidente da Associação dos Grandes Consumidores de Energia e Consumidores Livres (Abrace), Paulo Pedrosa, as empresas estão com uma agenda ambiental, social e de governança (ESG, na sigla em inglês), compromissos globais com emissões, além da busca por competitividade no mercado.
“Há um movimento de grande interesse para eficiência energética, como a contratação de energia incentivada e autoprodução para buscar competitividade e atender essa agenda global de compromissos. As empresas também se preparam para um mercado de carbono, que será uma realidade.”
A afirmação do executivo encontra eco na realidade. Um levantamento feito em 2020 pela coordenadora de iniciativa do Instituto Clima e Sociedade (iCS), Kamyla Borges, com as dez empresas mais bem pontuadas no Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE B3), mostrou que a eficiência energética é um ponto considerado para atender as metas ambientais.
“Embora a maioria [das empresas] afirme implementar medidas de eficiência, poucas foram aquelas que estabeleceram metas específicas de redução do consumo de energia ou de intensidade energética”, declara a pesquisadora.
Se na WEG as demandas são para serviços de melhorias de performance e automação da operação, na Onpower, a busca é por grupos geradores mais eficientes. Segundo o gerente de vendas, Fernando Lemos, o ano foi o melhor da história, com crescimento de 92% em relação ao ano anterior. “Vemos uma maior procura por máquinas a gás natural e biogás, que é uma outra matriz”, afirma.
Atualmente, mais de 50 grupos empresariais se interessam em parcerias com o poder público para serviços de iluminação pública. São 56 municípios brasileiros com contratos de concessão dos serviços de iluminação pública para a iniciativa privada, com investimentos estimados da ordem de R$ 18,3 bilhões. De acordo com os dados da Associação Brasileira das Concessionárias Privadas de Iluminação Pública (ABCIP), 12% do parque de iluminação pública do Brasil está sendo renovado por empresas privadas no modelo PPP (Parceria Público Privada).
“A modernização dos parques de iluminação pública com as luminárias de LED tem gerado uma economia de até 70% no consumo de energia elétrica”, afirma Pedro Iacovino, presidente da ABCIP. “Quando o parque é equipado com recursos de telegestão, a economia chega a ultrapassar 80%.”