Em seu relatório anual de avaliação do progresso da eficiência energética, divulgado no fim de 2021, a AIE (Agência Internacional de Energia) reconheceu que houve um aumento nos esforços direcionados à pauta – após um hiato em 2020, mas que é necessário um maior empenho para que a neutralidade de carbono seja alcançada até 2050.
O impacto da pandemia pôde ser percebido através do declínio da intensidade energética global. Foi registrada uma queda de apenas 0,5% e em 2021 espera-se que, com investimentos de 300 milhões de dólares, chegue a 1,9%. O declínio da intensidade energética regressou a um ritmo similar ao da média da última década. Isso porque o declínio anual foi de 2,3% em 2016, caindo para 1,3 nos cinco anos subsequentes.
A questão é que, para cumprir o cenário proposto pela AIE, zerando as emissões líquidas de gases com efeito de estufa até meados do século, seria necessário haver uma redução anual de 4% na intensidade energética entre 2020 e 2030.
Com isso, a economia mundial poderia crescer 40% até o final da década, por causa do aumento da população e do incremento dos rendimentos pessoais, paralelamente à redução do consumo de energia em 7%.
Para o diretor-geral da Agência, Fatih Birol, a eficiência energética é o melhor mecanismo para satisfazer as necessidades”da forma mais limpa e, na maioria dos casos, mais barata”.
“Não existe um caminho plausível para a redução para emissões zero sem utilizar os nossos recursos energéticos de forma muito mais eficiente”, comenta Birol, que também destaca o potencial que oferece para a criação de milhões de empregos de qualidade.
Segundo cálculos da AIE, com o montante de investimento necessário na próxima década para avançar no sentido da neutralidade de carbono seriam criados cerca de quatro milhões de empregos adicionais até 2030.
Seriam postos de trabalho principalmente nas áreas de construção civil e na instalação de sistemas de aquecimento, de refrigeração de água, porque é precisamente nos edifícios que se encontram algumas das maiores possibilidades de melhoria.
No sentido da busca de eficiência energética, o cenário defendido pela AIE prevê a proibição da venda de caldeiras a carvão e a petróleo em todo o mundo a partir de 2025, assim como de caldeiras a gás, exceto nos casos em que o fornecimento de gás é descarbonizado e os aquecedores podem queimar hidrogênio ou outros gases, para que possam ser classificados como de emissões zero.
A organização propõe também o aumento da proporção de edifícios que geram zero emissões líquidas de menos de 1% atualmente para 20% até 2030.
No campo dos transportes, a AIE considera que a eficiência de todos os tipos de veículos, incluindo os veículos de combustão, deve de ser melhorada. Ainda assim, pressupõe que, mesmo no seu cenário mais favorável, que leva a limitar o aquecimento global a 1,5 grau Celsius, 80% dos veículos de passageiros permanecerão a ser veículos de combustão em 2030.
A Agência lembra ainda que, em 2020, 40% dos veículos vendidos eram modelos pesados de tipo SUV, considerados ineficientes, enquanto os veículos elétricos representavam apenas 5%. Apesar disso, cerca de 20 países anunciaram que devem proibir a comercialização de veículos com motores de combustão até 2035.
Os autores do relatório afirmam ainda que cerca de 80% dos ganhos de eficiência energética se traduzem em poupanças para os consumidores – isto considerando tanto os custos iniciais das medidas quanto a posterior redução dos custos operacionais.