Há dois anos o Brasil vem se destacando em investimentos sustentáveis ligados à emissão de títulos verdes. O País apresentou números acima da média global, atingindo R$ 100 bilhões em 2021. É o que informa o diretor de Pesquisa e Avaliação ASG da consultoria Natural Intelligence (Nint), Cristovão Alves.
“Nosso mercado demorou mais a pegar no tranco, começando em 2020, enquanto Chile e Colômbia tomaram a frente”, destacou Alves, afirmando que o gap foi reduzido e vendo perspectivas mais positivas para 2022.
O executivo também destacou que, diferentemente dos mercados globais, há uma predominância das emissões vinculadas a metas de sustentabilidade no Brasil, assim como a pandemia foi um driver de crescimento dos títulos sociais em todo mundo, mas de forma pouco representativa por aqui.
Sobre a possibilidade de taxas diferentes para investimentos ESG, afirmou que não existe evidência dessa redução pelo seguimento de uma condição de dívidas com o título verde em relação ao tradicional.
“Os juros cobrados são os mesmos. O benefício é reputacional e de acessar novos bolsos, chamando a visibilidade de outros investidores que não comprariam a dívida antes”, afirmou, referindo-se à emissão no ano passado, que não obteve êxito nesse quesito junto ao mercado.
Consultora em Desenvolvimento Sustentável do Climate Bonds Initiative (CBI), Julia Ambrosano analisa que o mercado passa por um momento de maior conscientização sobre o que é verde. Ambrosano vê uma demanda maior do que a oferta desse ambiente no Brasil, que deve incentivar novos projetos renováveis e ligados à sustentabilidade.
A executiva também falou sobre a atuação da instituição em lançar uma taxonomia de categorização para o gargalo de certificação e definição do que é considerado verde, atuando em três frentes: fomento de mercado com assistência técnica, definição de critérios para elegibilidade de ativos e produção de análises e inteligência de mercado, sendo responsável pelo rastreamento dos títulos verdes e outros.
“Uma linguagem comum para que o fluxo financeiro não seja interrompido entre os países”, sintetizou, afirmando que o mercado representa atualmente mais de 16 mil instrumentos de dívidas em um volume de U$S 2,8 trilhões e uma tendência dessas finanças se tornarem mainstream.
A respeito das etapas para a obtenção dos instrumentos de dívida, a executiva aponta que a primeira é realizar o framework, documento que pode ser utilizado até em road shows por investidores, citando o uso de recursos como a seleção dos ativos e projetos, o gerenciamento dos recursos financeiros e a características de report, com engajamento de um verificador independente ou agente externo. “Avalia, emite relatório, e a CBI chancela a rotulagem e certificação do título para venda”, finaliza.